O Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul deu mais um passo importante rumo à modernização dos processos de controle externo. Nesta semana, a instituição lançou oficialmente o ChatTCE, uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida para apoiar servidores e auditores na análise de processos e na busca por informações qualificadas. Inspirado no modelo adotado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o sistema foi adaptado para a realidade sul-mato-grossense.
Para entender melhor como a ferramenta foi concebida, quais benefícios ela traz ao trabalho técnico e de que forma deve transformar a rotina do Tribunal, conversamos com o diretor de Tecnologia da Informação do TCE-MS, José Augusto Ferreira. Ele explica o que motivou o investimento, os cuidados adotados para garantir segurança e confiabilidade, e como a inteligência artificial pode fortalecer, sem substituir, a atuação humana no controle externo.
Confira a entrevista:
Gostaria de começar perguntando: o que motivou o Tribunal a investir nesse projeto e em parceria com o TCU?
José Augusto: O TCU foi o pioneiro entre todos os tribunais de contas, o sistema deles já foi muito testado e tem se consolidado como o melhor entre os sistemas de inteligência artificial para tribunais.
O ChatTCE foi inspirado no ChatTCU, mas adaptado à realidade sul-mato-grossense. Quais foram os principais ajustes feitos e o que diferencia o ChatTCE de outras ferramentas já existentes no mercado?
José Augusto: As principais alterações foram as bases de jurisprudência e a integração com o nosso e-TCE.
O sistema não acessa a internet em tempo real. Como essa característica contribui para garantir a segurança e a confidencialidade dos dados processados?
José Augusto: o sistema é capaz de coletar informações da internet, porém para a segurança dos dados do tribunal o sistema não fornece informações para a internet.
Mesmo com tantos recursos, a IA é apenas um apoio. De que forma o Tribunal garante que o papel crítico do auditor e do servidor continue central no processo de análise?
José Augusto: O humano sempre estará no controle, a ferramenta serve somente para agilizar os processos, mais a decisão final sempre será do servidor.
Um diferencial do ChatTCE é a possibilidade de personalização de prompts e parâmetros. Pode nos explicar como isso funciona na prática e de que maneira pode ajudar os servidores a obter respostas mais qualificadas?
José Augusto: cada servidor poderá desenvolver os seus próprios prompts, para o caso de prompts bem elaborados que tenham utilidade para outros servidores, poderá ser disponibilizado em um banco de prompts.
Impacto e Futuro
Na sua visão, quais mudanças concretas o senhor espera observar nas rotinas e análises do TCE-MS com a implantação do ChatTCE?
José Augusto: maior agilidade na rotina de trabalho e maior qualidade no produto final.
Você acredita que o uso da inteligência artificial pode fortalecer o controle externo?
José Augusto: sim, muito. O auditor conseguirá focar mais em sua atividade fim, deixando para a IA rotinas demoradas.
De que forma isso deve se refletir na agilidade, eficiência e qualidade das análises?
José Augusto: Em exemplos práticos, pode ser resumido processos muito extensos facilitando o entendimento. Também podem ser gerados modelos de documentos previamente preenchidos, etc.
O TCE-MS é um dos primeiros Tribunais de Contas do país a oficializar o uso da IA já em novembro. Quais foram os fatores determinantes para essa decisão?
José Augusto: Na verdade já existem vários tribunais de contas utilizando a inteligência artificial e acredito que o TCE-MS está entrando no momento certo, pois quando se fala de inteligência artificial, muito já se errou e muito já se acertou. Com isso embarcamos na IA com experiencias que nos ajudam a tomar melhores decisões, diminuindo as chances de erros.
Você acredita que o ChatTCE pode servir de modelo e inspirar outros Tribunais de Contas no Brasil?
José Augusto: com certeza, pois estamos fazendo um compilado de tudo o que existe de melhor e que deu certo.
E quanto à capacitação: já existe um plano de treinamento para que os servidores utilizem todo o potencial da ferramenta?
José Augusto: Já foram treinados alguns servidores durante o projeto piloto e agora os treinamentos serão intensificados para os demais servidores com o auxílio da ESCOEX.



